"Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente,e não a gente a ele". M.Q

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sábado, 11 de setembro de 2010

Quando desaprendi a amar

Quando desaprendi a amar foi a minha ruína, mas não me culpo, não somente eu, mas as pessoas. Desaprendi a amar ainda muito jovem, quando gozava de todo esplendor transbordando amor. Ditado mais certo é que encontramos a felicidade nas pequenas coisas, porém adiciono à célebre frase a palavra tristeza. Sim é nas pequenas coisas que nos tornamos sujeitos mais desgostosos.
A primeira vez que desaprendi a amar foi há anos, em um dia de muita chuva ao ver um menininho sentado no chão tentando sem sucesso enganar o frio com jornais, enquanto eu estava sentada no carro, agasalhada e quentinha, segurando uma boneca e esperando o sinal de trânsito abrir em meio a buzinas das pessoas grandes e apressadas que só enxergavam o semáforo. Acrescento a essa epopéia da vida o dia em que quebrei a xícara e apanhei sem dó ou mesmo quando caí, machuquei a perna e em meios a choros tímidos ouvia gargalhadas e vaias. Descobri que meu poder aquisitivo fora meu retrato, se tivesse cara de arara ou mico-leão-dourado tornava-me só mais uma em meio a multidão, mas se parecesse com os peixes... E viajando aprendi que pigmentação da pele era mais visível que a personalidade.
Fui desaprendendo a amar no verão em que caminhando em direção escola fui surpreendida por um revolver, percebi que para o sujeito a mochila valia muito mais que minha vida. Entrei em desalento quando só recebia abraços frouxos, quando uma pergunta era respondida junto com sete pedras as quais atingiam em cheio meu coração. O meu amor estava adormecendo ao ver mulheres apanharem e ainda adorarem seus parceiros, ao presenciar a corrupção e não poder fazer nada, pois sempre no meu pessimismo desde sempre houve e haverá indivíduos que se aproveitam dos outros. Pior do que está, sim, fica. Andava entristecida vendo seguidores de Hitler mesmo após seu declínio e a tristeza permanecia quando me lembrava que odiava a discrepância entre os extremos de pobreza e riqueza, mas era produto do capitalismo.
Descobri que não sabia mais amar, que não queria aceitar, mas era verdade, tinha medo de amar, pois desconfiava de tudo e de todos e sem o amor tornava-me mais arrogante, menos conversável e mais individualista. Achava que sobreviveria comigo mesma, antes só que mal acompanhada. Entretanto um dia recebi um telefonema de alguém que não vira a anos dizendo que estava com saudades, ganhei uma rosa que mesmo efêmera para mim não se tornou, recebi um beijo gostoso na bochecha, me contaram um segredinho, me cobriram quando estava dormindo. Fui abrindo o sorriso e meu coração respondeu igualmente.
Sigo então tentando reaprender a amar neste mundo, me mostrando devagarzinho e até rindo sem motivo. A alma agradece. È tão gostoso gostar de amar.


Sabrina Vaz